História [de término] de um casamento, confissões e lições.



tempo de leitura: aproximadamente 7 min. 

Oizinho, hoje vim trazer pra vocês uma resenha um pouco mais intimista sobre o filme História de um casamento, que é uma produção original da Netflix a qual tooooda internet tava falando quando saiu na plataforma, em meados de novembro do ano passado [o momento de histeria coletiva que todo mundo elevou Kylo Ren* a categoria de galã] e que chegou a concorrer ao Oscar desse ano.

Somos embarcados na história de casamento de Nicole e Charlie (interpretados por Scarlett Johansson e Adam Driver respectivamente). Aliás, somos embarcados na história de um divórcio de um casal de artistas cênicos que vivem de teatro em Nova York. Charlie é muito dedicado ao trabalho que faz de diretor na peça teatral que ele trabalha há anos com sua esposa Nicole, atriz a qual interpreta o papel principal.

No início, temos a perspectiva deles sobre as coisas as quais mais gostam um no outro, através de uma carta; mas não demora muito pra se perceber que eles já não vivem bem como um casal há um tempo. Ao longo do filme, percebe-se que o motivo central do término do casamento não é apenas um, como os casamento na vida real, e sim, uma combinação de fatores. Porém, no roteiro o gatilho pro conflito se desenvolver é o fato de Nicole sair da peça de Charlie por aceitar um papel numa série de tv em Los Angeles, cidade natal dela.

Eles acabam brigando porque Charlie nunca achou que ela fosse aceitar, Nicole segue firme na sua decisão e vai. Nisso, eles já estavam querendo partir pra uma separação mais amigável massss ela é influenciada por outras pessoas a procurar uma advogada e a partir daí é só ladeira a baixo.

Entre combates internos de advogados, brigas judiciais por partilha de guarda, frustrações pelo processo não ir adiante, mágoas do passado vindo à tona... vamos presenciando o caos de uma separação. Num conflito como esse, entre os envolvidos, há uma batalha de quem quer ter razão, o que é normal, pois quando se machuca, queremos que o outro valide o que sentimos, mas, isso é muito complicado na situação deles pois os dois só conseguem ver aquilo que machuca a si.

Quem vê, completamente alheio a situação, até quer ser conduzido a dar razão a alguém mas o roteiro faz não conseguimos, pois vemos ambos os lados e passamos a compreender-los. No filme, isso é bem nítido, cada um tem suas motivações, convicções e dores próprias. Diferente da vida real, que quando alguém que nos é próximo se machuca, comumente nós passamos a tomar suas dores, valiando-as e assumindo como nossas.

Falo isso por ser uma pessoa que viu términos e divórcios conturbados duas vezes na minha vida, uma com meus pais e outra com meu irmão. Esse último foi até bem parecido com o filme em algumas questões, como por exemplo; almejar uma passividade e tudo acabar no completo caos e haver uma criança no meio disso tudo [o que deixa as coisas 1000x mais difíceis, pois um problema de 2 pode acabar respingando em um outro que não tá relacionado com o conflito].

No caso dos meus pais, quando presenciei o processo de divórcio não foi algo tão confuso psicologicamente do que seria se eu fosse mais nova. Eu vivi a relação conflituosa deles e o divórcio saiu como um alívio a tanta dor. Infelizmente, é aí que o sentimento de tomar as dores se tornou forte em mim, principalmente da parte da minha mãe, com quem eu convivia muito mais do que meu pai. Quando fui amadurecendo, meu pai até me apresentou suas motivações do por que o casamento não vinha dando certo pra ele [o que reconheço que foi válido] mas isso teve um impacto muito menor pra mim, que cresceu vivendo com o sofrimento da minha mãe mais intensamente.

É como se fosse um "ok, entendo mas não justifica e ela sofreu bem mais do que você. eu tava lá pra ver."

Entretanto, minha sobrinha, mesmo sendo um bebê de dois anos, sentiu. Óbvio que não tanto quanto Henry, o personagem que faz o filho deles, porque ele é uma criança mais velha e com uma capacidade de assimilar e compreender bem maior do que um bebê. Mas quando as coisas estavam bem latentes, dava pra sentir que ela sentia algo estranho: não queria interagir, queria estar o tempo inteiro com o pai quando podia, em momento de birra chorava pelos dois.. e assim vai.

Cada casamento e divórcio são diferentes pois deles participam pessoas diferentes e há contextos sociais diferentes. Podem até ter coisas em comum, como: as mágoas, o sentimento de "eu fiz isso por elu e recebi x coisa", "elu não fez tanto quanto eu". Uns podem até conseguir ser mais pacífico; outros mais complexos por envolver abusos psicológicos e violências; outros com impasses que, não são tão graves tanto quantos os abusos, mas que ainda sim geram dor e angustias.

Não cabe a nós dizer quem sofreu mais em um término ou em alguma situação. Todos sofrem em alguma parcela. Isso é muito individual e subjetivo.

Além disso, maior lição que tiramos desse filme é que quando nós vivenciamos um problema a gente fica pensando que aquilo é a pior coisa a qual estamos passando na vida e que isso será o fim do mundo. O que é normal, porque estamos envolto a grandes emoções e devemos nos permitir a sentir as coisas como elas devem ser sentidas. É curioso pensar como as coisas vão passando, se ajustando e ressignificando de maneiras diferente para cada pessoa.

Assim a vida caminha, tanto no filme quanto na vida real.

[devo ressaltar que esse texto contém muitas opiniões e vivências >minhas< a respeito do tema o qual o filme aborda. não necessariamente vocês devem concordar comigo e nem obrigatoriamente assistirem ao filme para poder comentar; e nem comentar, caso não queiram, mas caso seja vontade, seja bem vindo pra abrir uma debate sobre qualquer coisa abordada aqui no post, estarei disposta a responder]
Se puderem fiquem em casa, lavem as mãos e tenham autocompaixão. 
Beijos e abraços.

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