Quarentena e afins.

Desde dezembro do ano passado o mundo entrou em contato com um surto pré-apocalíptico chamado coronavírus. Em pleno isolamento social, pensei em não comentar sobre isso por aqui, ainda mais depois de não ter postado nada muito interessante depois do meu primeiro post. Mas sei lá, sou profunda e sinto necessidade de falar sobre isso e como me sinto.

A humanidade, depois de presenciar eventos como guerras, sejam mundiais ou civis (algumas comunidades étnicas ainda passam por elas, na verdade), jamais pensou em passar por uma crise de saúde tão agressiva como o corona. Parece coisa de jogo, filme e livros de ficção-cientifica. É coisa de terror ver pessoas agindo ao mesmo tempo com medo, negligência e desespero.

Um dos continentes mais antigos, a Europa, em boa parte dos seus países, passa por um caos de muitos infectados, muitas mortes, pouco espaço para abrigar doentes, falta de recursos básicos de medidas protetivas como papel higiênico, máscaras, álcool em gel. Famílias perdem entes queridos sem ao menos se despedir, há controle de saída a rua, sistemas de saúde em colapso. Parece que um inimigo de anos atrás, como a peste, voltou em nova forma.

Isso evidentemente não chegaria a tardar em terras tupiniquins. Em pouco menos de dois meses do primeiro caso confirmado, isso já vem se mostrando uma realidade aqui. Em alguns casos, de maneira mais alarmante (e com variáveis muito mais agravantes como nas comunidades, onde falta água, produtos de higiene, moradias com condições necessárias para auto isolamento) e em outros, menos, a depender da localidade. De alguma maneira, parece que tomamos medidas de forma mais rápida que nossos amigos europeus, mas, aparentemente isso não tem surtido muito efeito.

Em tudo quanto é canto não é difícil receber um "fique em casa", "lave as mãos", "use máscara, álcool em falta de sabão e água" mas ainda sim há pessoas os mais diversos tipos de respostas a recomendações. Há pessoas que se preocupam mas não podem ficar dentro de casa, seja por questão de trabalho ou qualquer motivo maior. Há pessoas que estão em casa, mas fazem questão de sair. Há pessoas que seguem tudo a risca, há aqueles que seguem parcialmente.

Claro que também há aqueles que ignoram completamente. Preocupante mesmo é saber que um desse tipo de pessoa governa nosso país.

Chato ver como em um momento de união, há gente que insiste em não praticar empatia. Revoltante pensar que uma autoridade, a qual deveria ser exemplo e se preocupar com sua população, simplesmente distorce discursos de autoridades mundiais de saúde e põe em risco o seu povo incitando a ignorância. Pior ainda ver que ainda há seguidores cegos e fiéis mesmo com todo mundo apontando erro grotesco.

Chega-se em um ponto que se questiona se morre de doença, de fome ou de tudo junto. Deus do céu, até quando a ganância vai querer predominar sobre a dignidade e sobrevivência? As coisas mais ultrajantes que vi por esses tempos foram um auxílio governamental querendo ser barrado a todo custo; carreatas de pessoas privilegiadas em estados a fora pedindo o fim do isolamento social; pessoas negligenciando a gravidade da situação e continuando a frequentar lugares públicos desrespeitando autoridades, como por exemplo, aqui na minha cidade.

É chegar ao auge do egoísmo.

O emocional não aguenta. Não é muito difícil não surtar todos os dias vivendo nessas condições, seja dentro de casa, fora, trabalhando ou não trabalhando. Estamos vivendo uma espécie de luto sem saber disso. Todos os dias, acordar se torna um fardo pesado de aguentar. Nunca se sabe qual a próxima notícia, sua qualidade (boa ou ruim) nem chega a ser uma expectativa. O que tiver de ser será, pois já não importa quando tudo parece sempre ser o mesmo dia.

Em meio a isso tudo, ainda surge aquele fantasma do espirito da produtividade aloprada. Numa busca de gerir recursos que não estão dentro do nosso alcance no atual contexto. Cumprir metas, controle de tempo e coisas do gênero. Cada vez isso me mostra de que esse vírus veio nos transparecer como está tudo errado na nossa maneira de viver. Somos pessoas, não máquinas.

Sabe-se que isolamento social não é férias, mas tudo deve ser feito dentro dos limites do que cada um pode entregar. Em tempos como esse, em que tudo tá parado, nós não temos necessidade de uma busca desenfreada por produzir. Viver nessa maneira É doentio. A ansiedade patológica nos come vivos e até quando a gente vai se deixar ser comida pra isso?

Se por um lado a mania de querer ter controle de tudo e do tempo causa ansiedade, por outro lado o ócio completo nós leva a uma melancolia que faz pensar que nada preenche seu tempo por completo.

Particularmente, essa é uma coisa que se encontra bem presente a mim pois há muito tempo que estou fora de um ambiente de obrigações, como escola ou trabalho. Eu saí do ensino médio recentemente e entrei para a universidade, porém não cheguei a começar as aulas: a pandemia chegou cedo demais por aqui.

Torna-se um desconforto muito grande estar em quarentena quando já se encontra há um tempo em "tempo livre", porém é necessário. Tudo facilmente me incomoda, as atividades são enfadonhas e não conseguem suprir minha necessidade de "fazer algo"; fica uma sensação de não importa o que se faz, não está realmente fazendo algo; além da perda de interesse e motivação para se fazer coisas novas, porque em algum momento já se fez algo do tipo.

Enquanto estava em férias, ainda cheguei a estudar para concursos, mas me encontrei na questão a qual citei a cima, da produtividade aloprada. O resultado não chegou a tardar e o esgotamento físico e mental chegou com tudo, principalmente na quarentena. Essas duas semanas encontro-me totalmente dividida entre a exaustão da produtividade e a falta de vontade do puro ócio. É complicado gerir essa bomba de sentimentos, ainda mais em um estado de confinamento, o qual você não pode ter uma válvula de espape externa. Muitos assim como eu, devem estar nessa mesma situação e tentando não pesar mais ainda uma outra variável: a convivência incessante com outras pessoas nessa mesma situação e sentimento na mesma casa.

O estresse se multiplica por mil e parece que as coisas externas não mudam. E não vão mudar mesmo tão cedo e isso a gente não tem controle nenhum. É estranho como queremos o controle externo mas não nos importamos com o interno, aquilo que realmente nos ajuda em muitos aspectos. Infelizmente, somente cabe a nós sair do nosso próprio estado de inércia para ir em busca daquilo que seja aliviador pra nós. Essa procura é muito subjetiva e difícil de se procurar em momentos de turbulência mental, porém necessária. Ela nos dará o equilíbrio entre produtividade e ócio, algo essencial para nossa mente não surtar.

Confesso, ainda não achei o que me alivia completamente. E receio de que não será apenas uma atividade. Mas até lá, eu assumo uma autocompaixão comigo, compreendendo meus chiliques e minhas limitações e dando passos de formiga para poder lidar melhor a cada dia com essa situação incômoda. Enquanto isso, lavo minhas mãozinhas, evito sair de casa e ter contato com aglomerações, vejo umas séries, desabafo em textos como esses e alongo meu corpo pra induzir a produção de algo que, sozinha, não pareço dar conta de produzir por vontade própria.

Tenham autocompaixão, se exercitem, defendam o sus e sigam as recomendações das secretaria de saude do estado e da cidade de vocês. Fiquem em casa, se puderem. Beijos e abraços virtuais. 💖

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